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  • Foto do escritorAna Paula Marques

A Gaúcha que se apaixonou pelos ventos de Brasília

Atualizado: 15 de nov. de 2021

Atleta paralímpica da vela adaptada encontrou no esporte a liberdade que sempre buscou


Ana Paula Marques no Mundial realizado nos Estados Unidos, onde trouxe o ouro para o Brasil.

Nascida e criada em Alvorada, Rio Grande do Sul, Ana Paula Marques, 39 anos, se viu mudando para o Centro-oeste por consequência da dor. No frio seu corpo demora a esquentar, e sua lesão dói bastante. Em 2005, ela foi vítima de uma tentativa de feminicídio, que deixou essa sequela. O ex-companheiro, que ela conheceu aos 16 anos, sempre demonstrou ciúmes e não queria que ela trabalhasse e estudasse, o relacionamento era marcado por brigas constantes. Tudo foi agravado depois da separação, quando Ana Paula estava com 19 anos.


Da relação com o ex-companheiro, Ana Paula vai levar duas coisas até o fim da vida, um filho e uma lesão medular. Por não aceitar o fim do relacionamento, o ex-marido continuava a seguir Ana Paula: “Eu saí desse relacionamento, e voltei para a casa da minha mãe com meu filho, mas ele continuava me perseguindo pelas ruas e me ameaçando”. Na noite da tentativa de feminicídio, o ex-companheiro de Ana Paula a esperava na rua da antiga casa que os dois dividiam. Ela tinha voltado a estudar e o caminho para a escola era feito por essa rua. À noite, quando estava indo para a casa da mãe, acompanhada da irmã, ele a abordou e agrediu.

Ana Paula pediu à irmã que segurasse o ex-marido, para que ela pudesse fugir. Foi quando virou as costas e ouviu um grito. Ele estava armado e disparou dois tiros. Um atingiu a coluna. “Naquele momento eu senti um choque e cai, não sentia mais nada da cintura para baixo… Foi no hospital que eu percebi que não podia mais andar”.

No Hospital em Alvorada, os médicos falaram que com fisioterapia ela poderia voltar a andar, mas foi quando transferiu o tratamento para a Rede Sarah, em Brasília, que descobriu que a lesão medular não tem cura.

Ana Paula vinha todo ano para o Distrito Federal, realizar a terapia e o tratamento. No Sarah ela foi apresentada a vários esportes como forma de terapia, mas o amor à primeira vista foi pela vela paralímpica. Como no sul a prática não é comum, em 2013, Ana Paula se mudou para o cerrado, e fez dos ventos calmos do lago Paranoá o seu lugar de paz.
Ana Paula em competição Mundial de 2018 O esporte não trouxe apenas salvação, mas também liberdade. Mesmo sem saber nadar, foi nas águas que Ana Paula descobriu que o medo é só mais um obstáculo. Nos ventos que conduzem o barco e que também a impulsionam para a vida, ela fez novas amizades e aprendeu a interagir com a natureza. Nas competições mundiais descobriu outras culturas e pessoas.

Medalhas de Ana Paula, ganhas em Mundiais.

Em 2018, na competição mundial nos Estados Unidos, chegou ao lugar mais alto do pódio e trouxe o ouro para o Brasil. Ana Paula fala sobre o dia em que ganhou a medalha mais desejada: “Aquele ouro foi inesperado, eu nunca chegava em primeiro lugar, era sempre quarto, terceiro ou segundo, e no último dia os ventos estavam ao meu favor… Ventos calmos e águas sem ondas, como as que estava acostumada aqui do lago Paranoá… Naquele dia os ventos vieram diretamente para mim”.


Apesar das 3 medalhas, ouro, prata e bronze, em campeonatos mundiais, a atleta Ana Paula ainda depende de doações para participar das competições. Para ir à Itália este ano, Ana contou com apoiadores, conhecidos, amigos, familiares e desconhecidos, que a ajudaram por meio de vaquinhas ou doações diretas. Ana Paula reclama da falta de recursos para as competições internacionais: "Nós, os atletas, já fazemos isso tudo sem apoio, acho que se tivéssemos mais, iríamos trazer ainda mais medalhas para o Brasil”.

Instagram da atleta.


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