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  • Foto do escritorMilena Carvalho

Ana Gabriely e a busca pelo ouro fora das quadras

Atualizado: 19 de nov. de 2021



Ana Gabriely Brito, 31, tem poucas lembranças da vida antes do esporte. A atividade física surgiu como uma disciplina escolar desde muito nova. Ela passou pelo atletismo e pelo judô, quem a vê jogando goalball com tanta raça, nem imagina que a modalidade não foi o seu primeiro amor. Antes, Ana Gabriely era nadadora.


“Não achava que o goalball era para mim. Achava que machucava e ficava toda roxa após os jogos. Mas, eu sempre gostei da sensação que o esporte me dá de competir, conviver com outras pessoas, viajar e me sentir viva. Então, o sistema do goalball me conquistou muito. Essa coisa de ataque contra a defesa, principalmente a defesa que é o meu carro chefe”. - arte com foto


Com incentivo dos familiares e amigos, Ana Gabriely insistiu e se apaixonou pela modalidade. Hoje, a atleta faz parte da equipe feminina de goalball do Sesi de Mogi das Cruzes e também da Seleção Brasileira.


O crescimento não é fácil. A fé e a força caminham lado a lado com a atleta, até os dias de hoje. Ana nasceu com albinismo, uma doença congênita que altera a produção de melanina. Por isso, a pele, os cabelos e os olhos são mais claros e sensíveis. Os problemas para enxergar também são comuns.


Por trás de tanta determinação, em 2016, Ana Gabriely enfrentou dificuldades morando com a filha em São Paulo. Pensou em desistir do esporte para voltar ao seio da família que ficou no Rio de Janeiro.





Mesmo vivendo o sonho do esporte como profissão, Ana enfrenta desafios. “Somos muito cobrados, e para o atleta paralímpico o passinho é de formiguinha, não temos investimento, não temos visibilidade e pouquíssima infraestrutura. Então, é muito difícil ser atleta paralímpico no Brasil”, pontua a atleta.


Como fruto dos treinos longos e de muito trabalho, Ana Gabriely recebe um salário fixo, do Sesi, bolsa-auxílio atleta e patrocínio, por jogar na Seleção. Mesmo assim, os valores são incertos e pequenos para a também dona de casa e mãe da Ana Clara, de 11 anos.






Mesmo com as dificuldades, Ana Gabriely conquistou premiações. Em 2018, disputou o primeiro Mundial com a Seleção Brasileira, em Malmo, na Suécia, e trouxe o bronze para casa. No ano seguinte, foi campeã parapan-americana, em Lima, no Peru. E neste ano, disputou os Jogos Paralímpicos pela primeira vez e ficou em 4º lugar.


“Demorei um pouco para processar tudo. Além das coisas boas que vivi em Tokyo, confesso que não foi fácil voltar com o 4º lugar. Doeu bastante e precisei tirar um tempo para repensar e decidir onde posso melhorar para seguir buscando essa tão sonhada medalha”, confessa Ana Gabriely.




Dupla jornada mãe-atleta


A brasiliense, mesmo cansada do treino puxado, precisa auxiliar a filha na lição de casa, banho, jantar e outras atividades. O trabalho é dividido com o companheiro, que também dá suporte à criança, mas Ana ainda precisa se desdobrar para ser ouro na modalidade mãe.


“Tem dia que chegamos em casa depois das 20h. Pego minha filha na escola, vamos para o pilates e só depois vamos embora. E ainda preciso ficar em cima dela para fazer tudo”.


Durante a nossa conversa por vídeo chamada, a atleta confessou que ser mãe também foi um dos motivos que a fez pensar em desistir do esporte, pois nem sempre deu conta de tudo. Sabia que a vida corrida de treino e jogos fazia a filha sofrer de saudade do colo de mãe.




Com a pandemia da Covid-19, a atleta adaptou a rotina de treinos em casa com a filha. Ana Gabriely usou o sofá como peso para pernas, colocou a filha nas costas para fazer agachamentos e transformou a sala em uma academia diferente, mas muito útil. Afinal, a atleta estava em preparação para as olimpíadas de Tokyo.


“O maior medo do atleta é errar, mas esse medo aparece porque muita gente precisa da gente e confia muito no nosso trabalho. Então temia decepcionar as pessoas que investem em mim e desonrar a camisa do time que eu visto, são processos que estou vencendo”.


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